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  • Foto do escritorDra. Patricia de Carvalho Aguiar

FDA acaba de aprovar um novo tratamento para o Alzheimer!

O FDA acaba de aprovar o #Lecanemab, um anticorpo monoclonal que se liga com alta afinidade às protofibrilas solúveis de #amiloide (Aß), para o tratamento de pacientes com doença de #Alzheimer (DA) em estágio inicial!! Até o momento, a DA dispõe apenas de tratamento para sintomas, e há uma série de pesquisas tentando desenvolver medicamentos que consigam impedir a progressão da DA.

Na DA, as principais alterações no cérebro são as chamadas placas senis , que são os agregados da proteina beta-amilóide (Aß), e os emaranhados neurofibrilares, que são agregados da proteina TAU. Algumas pesquisas têm como alvo a diminuição desses agregados proteicos com forma de tratamento, mas sabemos que o mecanismo não é tão simples assim, e muitos questionam se essa seria a melhor alternativa.

Drogas que têm os agregados de Aß como alvo não são novidade, mas muitos estudos falharam em mostrar resultados consistentes, alguns tiveram efeitos adversos graves e tiveram que ser suspensos.


Recentemente, um grande estudo #ClarityAD [1] utilizou essa estratégia (anticorpos contra a proteína Aß), com resultados positivos e animadores. No começo de janeiro de 2023 o FDA aprovou esse medicamento, o #Lecanemab, para uso no Alzheimer na fase inicial. Aqui comento resumidamente o que o ensaio clínico Clarity AD demonstrou, e o que o diferencia de outros estudos:


O Clarity AD é um estudo multicêntrico fase III, duplo-cego, randomizado com duração de 18 meses. Contou com 1.795 participantes com comprometimento cognitivo leve (#CCL) ou DA em estágio inicial. Uma parte do grupo recebeu injeções endovenosas do Lecanemab e outra parte recebeu placebo (um veículo sem nenhum remédio).


O estudo utilizou uma série de escalas clínicas para avaliar o comprometimento cognitivo na DA, e atingiu todas as medidas de desfecho primário, mostrando redução significante da velocidade de progressão no grupo tratado: CDR-SB (27%), ADAScog (26%), ADCS-MDI-ACL (37%). Essa distinção entre o grupo tratado e o placebo já foi observada no 6º mês e continuou ao longo dos 18 meses do estudo.


O Lecanemab também atingiu os desfechos secundários, mostrando uma diminuição robusta da carga de amiloide no exame de PET em 2/3 dos pacientes tratados até negativarem. Além disso, houve melhora significante nas medidas de qualidade de vida.


Em termos de segurança, o perfil da droga mostrou-se relativamente seguro, mas houve casos de edema e sangramento cerebral, a maioria de leve a moderado, com boa resolução. Houve necessidade de interrupção do ensaio apenas em 6,9% no grupo Lecanemab e 2,9% no grupo placebo.


Por que esse estudo é diferente de tantos outros que já usaram anticorpos anti-amiloide-ß?

  • Esse é o primeiro estudo que mostrou resultados muito consistentes, tanto clínicos quanto na neuroimagem.

  • #Lecanumab tem como alvo preferencial as protofibrilas de amiloide e não tanto o amiloide já depositado nas placas senis. Ou seja, tem como alvo principal o que muitos consideram as espécies tóxicas de amiloide, o que seria uma vantagem se estamos pensando em neuroproteção. Isso o diferencia de outros medicamentos que também são anticorpos, mas cujo alvo são os agregados beta-amiloide, e vários ensaios clínicos falharam em demonstrar melhora convincente.

  • Em relação a outros estudos, este foi mais representativo em termos de população, pois incluiu pessoas de etnias diferentes e admitiu pessoas com comorbidades, o que está muito mais próximo da nossa realidade na prática clínica.

Considerando a tendência de desaceleração da doença, se fizermos uma extrapolação para os anos seguintes (e essa é apenas teórica, ainda não temos tempo de estudo para confirmar esse efeito protetor), os pacientes ficariam muito mais tempo na fase inicial da doença e a fase avançada seria protelada. Isso significa um ganho significativo em qualidade de vida.


Conclusões: SE esses achados forem realmente confirmados em estudos mais amplos, e isso só o tempo dirá, teremos uma ferramenta poderosa para intervir na progressão da DA, pelo menos para pessoas que estão na fase inicial. Mais uma vez, isso mostra a importância de ficarmos atentos para fazer o diagnóstico precoce!


Respondendo a algumas perguntas enviadas por pacientes e familiares:



1- Hoje, 07 de janeiro de 2023, este medicamento ainda não está sendo comercializado em nenhum país. O registro acabou de ser aprovado pelo FDA. Ainda não temos informações de quando chegará ao Brasil e nem sobre o seu custo.


2- Os estudos continuam em andamento, para que possamos verificar os efeitos após esses 18 meses e responder a outras questões.


3- Ainda não há estudos para pacientes com Alzheimer avançado e, por enquanto, o FDA aprovou apenas para a doença em fase inicial.



Este conteúdo é apenas educacional, não substitui a avaliação médica e não é recomendação terapêutica. Não temos qualquer ligação com o estudo ou com o laboratório que produz este medicamento.



Bibliografia

1. Lecanemab in Early Alzheimer’s Disease. N Engl J Med 2023; 388:9-21

DOI: 10.1056/NEJMoa2212948

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