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Biografia

Dra. Patrícia  de Carvalho Aguiar, MD, PhD.
CRM 73559

Neurologista RQE 84126

"Ao examinar a doença, ganhamos sabedoria sobre anatomia, fisiologia e biologia. Ao examinar a pessoa com a doença, ganhamos sabedoria sobre a vida."

Oliver Sacks

 

Toda trajetória profissional é feita por pessoas que nos ajudaram a trilhar aquele caminho. Falar apenas sobre a formação de um profissional não reflete, de fato, quem ele é. Se você quer saber um pouco mais e tem um tempinho, aqui vai uma narrativa mais detalhada de como cheguei onde estou, e sobre algumas pessoas que fizeram parte dessa jornada.

  Desde a minha infância eu já era encantada por duas grandes fronteiras do conhecimento: o universo em que vivemos e o cérebro humano. Criança está sempre perguntando sobre os porquês de tudo, e eu não era diferente. Numa época em que a internet nem existia e a informação caminhava devagar, eu buscava conhecimento avidamente lendo tudo o que caía na minha mão, livros, enciclopédias, jornais e revistinhas de banca de jornal. Lembro bem que minha mãe guardou uma revista histórica para mostrar às filhas, cuja capa ilustrava a chegada do homem à lua em 1969. Aos 5-6 anos de idade eu passava horas nas calçadas no bairro da Lapa contemplando aquele astro, e qualquer manchinha diferente eu já achava que era um astronauta andando por lá. Meu pai comprava kits de ciência na banca de jornal e era uma festa pra ver onde aquilo tudo ia dar! Em resumo, cresci num ambiente que estimulava a educação e a busca pelo conhecimento.

   Bem, mas o que tudo isso tem a ver com até onde eu cheguei hoje? Na época do vestibular eu continuava dividida entre as duas paixões de infância (além de muitas outras que surgiram pelo caminho, como a música), e fiz o exame para várias faculdades, incluindo Medicina e Física. Passei em todas mas optei pela Medicina, já convicta de que eu seria Neurologista. E lá fui eu, para a USP de Ribeirão Preto, bem conhecida por suas fortes linhas de pesquisa nas ciências básicas. Na faculdade nem tudo foram flores, amadurecer num ambiente de alta demanda, ter contato muito cedo com a dor, a morte e a nossa impotência diante dela transforma a nossa personalidade e nos torna humildes diante do nosso ainda vasto desconhecimento. Mas os momentos gratificantes foram muitos, como ver pacientes melhorando, conseguir reverter a primeira parada cardiorrespiratória e ajudar em dezenas de partos colocando muitos bebezinhos no mundo! Mas eu me divertia mesmo era enfurnada laboratórios de pesquisa nas minhas horas vagas, onde aprendi muito com meus mestres. Ao final da faculdade não tinha a menor dúvida de que eu queria fazer Neurologia, e assim segui para meus quatro anos de residência médica nessa área, onde o encantamento pelo cérebro humano só aumentou.

   Mesmo apaixonada pela clínica e por atender pacientes, nunca consegui me ver afastada pesquisa científica, o “bichinho dos porquês” que carrego desde a infância ronda a minha cabeça todos os dias. Mesmo trabalhando em consultório e em emergências médicas, foi um caminho natural me dedicar à pesquisa acadêmica, pois creio que  também é uma forma de ajudar meus pacientes a encontrar soluções. Pode ser que não seja para hoje, pesquisa requer tempo e investimento, mas certamente o conhecimento irá gerar benefícios para gerações futuras.

 

   Na minha pós-graduação, me dediquei particularmente aos transtornos do movimento. No meu mestrado na UNIFESP avaliei efeitos motores de pacientes com Parkinson submetidos a cirurgias ablativas (numa época em que DBS ainda não estava disponível). Meu supervisor foi o Dr. Henrique Ballalai Ferraz, um dos grandes expoentes na área dos distúrbios do movimento, grande mestre e amigo até hoje. No meu doutorado resolvi me dedicar a outra grande fronteira do conhecimento: a área de genética e biologia molecular das doenças neurológicas. O conhecimento estava avançando numa velocidade muito alta, e eu não entendia nada daquilo. Voltei meu olhar para os pacientes com distonia, um transtorno do movimento de alta complexidade, e lá fui eu me aventurar num doutorado sanduíche para estudar a genética desses pacientes no laboratório de umas das maiores autoridades do mundo, a Dra. Laurie Ozelius, no Albert Einstein College of Medicine em Nova Iorque (hoje ela mudou seu laboratório para Harvard). Terminei o trabalho referente à minha tese rapidamente pesquisando mutações genéticas em pacientes brasileiros com distonia, e a Dra. Ozelius foi me envolvendo em outros projetos de seu laboratório que buscavam encontrar novos genes para as distonias. Aquele trabalho de detetive era muito empolgante! Fazer sequenciamento genético de milhares de trechinhos de cromossomos, buscando a combinação entre eles e os doentes, era uma trabalheira sem fim numa época em que não havia tecnologias de sequenciamento em larga escala. Faltava apenas uma semana para eu voltar de vez para o Brasil, tese de doutorado escrita, passagem aérea comprada, já havia me desfeito da mobília da casa, dormia num colchonete no chão quando, de repente, tive a certeza de que havíamos encontrado o gene causador da Distonia-Parkinsonismo de Início Rápido (gene ATP1A3), uma doença que mistura elementos da distonia e Parkinson! Eu chegava bem cedo ao laboratório e só saía tarde da noite, acelerando os experimentos ao máximo. Ainda tinha que fazer uma série de experimentos para confirmar a descoberta e Dra. Ozelius me falou “você não pode ir embora no melhor da festa”! Em resumo, voltei rapidamente ao Brasil, consegui autorização para retornar a Nova Iorque e concluir os experimentos, que renderam uma publicação importante e um dos meus trabalhos mais citados até hoje*. A partir dessa descoberta, inúmeras outras foram feitas sobre o papel desse gene também em outras doenças.

  Alguns anos se passaram, continuei dedicada à prática médica e à pesquisa clínica/experimental e ao ensino de neurologia/neurociências. Em 2008 recebi um prêmio do Departamento de Ciência e Tecnologia (DECIT) do Ministério da Saúde, que me proporcionou fazer um pós-doutorado na Suíça, dentro da farmacêutica F. Hoffmann- La Roche, na área de Medicina Molecular. Foi outra experiência bastante enriquecedora.

 

    Hoje sou neurologista do corpo clínico aberto do Hospital Israelita Albert Einstein e docente dos programas de pós-graduação de Neurologia/Neurociências da UNIFESP e de Ciências da Saúde do Hospital Albert Einstein. Oriento alunos de iniciação científica e pós-graduando em diversos projetos de pesquisa na área de distúrbios do movimento (doença de Parkinson, distonias, etc.), envolvendo neurogenética, biologia celular utilizando modelos de células tronco, estudo dos distúrbios do movimento com várias técnicas de mapeamento cerebral. Além do ensino de Neurociências, possuo dezenas de trabalhos publicados em revistas internacionais com mais de 2 mil citações e participo ativamente como palestrante em de congressos nacionais e internacionais na área de distúrbios do movimento e neurogenética.

   Nessa caminhada de mais de duas décadas atendendo pacientes neurológicos, só tenho a agradecer por tudo o que aprendi com meus pacientes, com meus orientadores (Dr. Henrique B. Ferraz e Dra. Laurie Ozelius), meus professores, meus pais, meus alunos, amigos e doguinhos que também me ensinaram muito. Agradeço especialmente às agências de fomento públicas ou privadas que possibilitaram minha dedicação à pesquisa. Sem investimento não há ciência, não há progresso.

   Faço uma menção especial a duas figuras inspiradoras, grandes divulgadores da ciência, que fizeram toda a diferença na minha formação: o astrônomo Carl Sagan e o Neurologista Oliver Sacks, que aguçaram ainda mais a minha vontade de desvendar as fronteiras do conhecimento. Ambos já partiram, mas seus trabalhos de divulgação científica deixaram um legado precioso para muitas gerações.

  Ah, e sobre as outras paixões de infância? Continuo estudando Astronomia e faço pesquisa de forma amadora com um grupo de pessoas incríveis, ALFA CRUCIS, recentemente começamos a contribuir com astrônomos profissionais da NASA na busca de exoplanetas (projeto TESS). Retomei a música após os 40 anos e comecei a estudar violoncelo (excelente treino cognitivo!), hoje toco numa orquestra de câmara amadora maravilhosa e também criei e organizo um Encontro de Música de Câmara para adultos amadores que, como eu, não tocam muito bem e querem apenas se divertir fazendo música.

 Se você quiser saber mais detalhes sobre minhas linhas de pesquisa e publicações científicas, deixo os links abaixo. Muito obrigada pela atenção!

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"Mesmo trabalhando em consultório e em emergências médicas, foi um caminho natural me dedicar à pesquisa acadêmica, pois creio que também é uma forma de ajudar meus pacientes a encontrar soluções."

Dra. Patricia de Carvalho Aguiar

Clique para abrir a galeria abaixo e conhecer a minha formação.

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